sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Galopera


Pulmões de aço
Galoooopeeeeeeeeeraaaa
Ganha a amada amante no grito
Seu amor é perene
Sua recusa ao efêmero é certa:
Nunca mais te esquecerei...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sábado


Olho entre a roseira: o Sol
Um arco-íris convidativo
Chama-me
Pássaros melodiosos
de penas aquareladas
me traz frutos
e um tom prosaico no bico
uma brisa fugaz traz florzinhas
e lembranças.
Lembranças constantes
E o crepúsculo preenche lacunas.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Amar o perdido



Amar o perdido deixa confundido este coração... Adorava Drummond e “Memória” era o seu preferido poema. Não era de ferro como o itabirano, mas nem de longe lembrava a frágil menina dos tenros anos.

Era artista plástica. Escultora. Fazia, com uma freqüência intrigante, bailarinas. Rodopiando, bailando, voando, com movimentos perfeitos. Sempre de coque, pernas finas e vestidos floridos. Era realizada na profissão, com mostras em exposições que lhe rendiam louros.

Era casada e amava demais o marido. Deveras amava. Mal sabia que tudo em excesso é pernicioso. Ouvira maquinalmente, no casamento, as sábias palavras de Padre Antero, que entravam e saiam de seus ouvidos com velocidade ímpar:

- Meus filhos, não pequem pelo excesso – dizia o sacerdote e prosseguindo – até água benta, em excesso, afoga.

Ela, em total devaneio, criava suas esculturas, só lhe faltava material. Tinha um ciúme possessivo, sufocante. Ele não suportava mais. Era como um sapato apertado, um local fechado. Não se fazia esquecer, estava presente dia a dia. Chegou a segui-lo. Cheirava suas roupas e quando alguém ligava (mulher ou homem) falava que havia saído há pouco.

- Quem era? – ele perguntou

- Telemarketing – dizia ela com a naturalidade de um monge tibetano.

E marcando lugar, o ciúme foi crescendo, crescendo e como uma força estranha afastou os dois, empurrando um para fora da relação.

- Eu amava quem você era – disse o marido depois de uma briga acalorada.

- Você nunca me amou – ela revoltando-se.

- Você é que nunca me amou, eu sempre fui um joguete em suas mãos, uma bailarina...

Ela deixou escorrer um fio de lágrima que lhe cortou a face.

- Não me comovo – ele já saindo – tentei, mas não dá! Não dá!

- Renato, Renatoooo! – se jogando no chão, gritou em vão.


Pegando a mala e girando suavemente a maçaneta ele atira contra os sentimentos dela (inexistentes em sua opinião):

- Adeus, Marcela e um feliz ano novo. – Ele saiu na chuva e fez sinal para um táxi. Nem olhou para trás.

Ah... Esqueci de contar que o desenlace ocorreu dia 30 de dezembro. Chovia... Ela desceu ao ateliê, concluiu uma bailarina suspensa por um bailarino. Escreveu um bilhete. Colocou-o embaixo da escultura. Com muita serenidade procurou na gaveta, entre calcinhas, o que queria. Abraçada a uma foto do casamento fez dois furos, e caindo, já delirando, gritou o nome do amado.

No bilhete lia-se: “Amar o perdido deixa confundido este coração”.