quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Meus espinhos


Somos rosas
Com pétalas desbotadas
Folhas amarelas
Espinhos dolorosos
Pólen pouco atrativo
Uma rosa excluída
Da beleza da primavera
O vento não nos convida a dançar
As borboletas são repelidas
O sol não nos trás vida
A lua nos exclui do espetáculo noturno
Os enamorados não nos olham
Os defuntos vislumbram em nós enfeite
Tudo em branco e preto
Felicidade é um retrato na parede
Os meus espinhos são uma constante na minha pele
Não tenho seiva
Não sobram em mim senão sombras
A paisagem pede:
- Que morra, Sempre-viva!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Desde a tenra idade

Pequena consumista


Fui ao Shopping outro dia e numa livraria entre materiais escolares e livros de temática superficial e perecível vi uma mãe em seu momento filosófico ensinando a sua pequena (devia ter quatro anos, no máximo) que não podemos comprar tudo, e pelo olhar da menininha ela queria que embrulhassem o mundo para presente. A mãe ajoelhou-se e da altura da pequena consumista disse: “Meu bem, tem lojas em que o dinheiro compra muito e tem lojas em que o dinheiro não compra quase nada, a mamãe não pode gastar por que senão não vai dar pra pagar”, faltou somente uma rima e dizer: VAMOS ECONOMIZAR! A pequena olhou para mim com uns olhinhos de dúvida que perguntavam é isso mesmo? Eu, rapidamente, balancei a cabeça afirmativamente e ela devolveu um objeto inútil para sua idade: uma calculadora científica!


Não deu, espreme que dá!

A escrita fascina as crianças, elas com aqueles traços engarranchados e sem muita coordenação escreveriam um livro se fossem incentivadas, mas o problema é que os lugares onde escrevem geralmente são impróprios para elas deixarem os seus hieróglifos: paredes, livros, lençóis, a própria perna, o braço dos outros etc. A prima de um amigo meu estava em seu momento de literata, escrevia o nome RAPHAEL, mas quando, já no final do nome, ela constatou que não caberia o L, ela hesitou e em poucos minutos a solução: virou a perna da letra, sem dó nem piedade da letrinha entortou a coitada e tirou disso uma constatação, a de que sempre podemos dar um jeito, mesmo que torto.


Deus me livre quem dera!

Não presenciei a cena, mas a minha eficiente informante contou-me tudo, e com riqueza de detalhes. A sobrinha de uma amiga minha era fascinada com a máquina de lavar. Quando a mãe transferia as roupas sujas para a máquina, a menina olhava aquele eixo girando e ficava embasbacada. Certo dia ela tomou coragem e disparou: ”Mamãe, quando a senhora morrer, Deus me livre quem dera, dá a máquina pra mim?”. Vai ser uma excelente dona-de-casa!

Mãos


As mãos que me encantam
Tem muitos detalhes.
O desenho das veias,
rio que serpenteia até chegar no mar: seu coração.
A curvatura dos dedos, lindos.
Os poros que lhe deixam escapar a alma.
A graça que um anel lhe confere não pode ser traduzida.
A palma tenra,
As digitais, as linhas, as unhas.
O elo do amar, o selo do amor.