domingo, 6 de setembro de 2009

Primaveras casuais

"(...) vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação (...)”.

Belchior


Ah! Que saudade que eu tenho de Eulália... Como era graciosa em suas formas ainda pouco reveladas naqueles vestidos de flores minúsculas. Sua aura cândida de menina interiorana era fronteiriça. Seu perfume de alfazema causava-me frêmitos da flor da idade. Quando ia passar os finais de semana em São Luiz do Paraitinga ela me fazia companhia. Sua avó estendia a roupa no quintal e entre os lençóis ao vento brincávamos de esconde-esconde. Ela era bem mais nova que eu, mas isso não era empecilho para nossas brincadeiras. Nadávamos no Paraibuna...

Agora que bato a teclas da máquina de escrever lembro da sua meninice que eu vi desaparecer. No dia em que ela fez anos dei-lhe um livrinho do Monteiro Lobato. Ela leu e releu e depois pediu mais um. No dia em que cheguei com o outro livro ela estava super ansiosa e nem queria saber de brincar, só de ler. Pior do que isso: não queria saber de mim! Levantei o livro acima da minha cabeça e por minutos deixei-a pulando em volta. Depois deixei pender os braços. Isso sempre se repetia. Um dia propus uma troca: ela ganhava os presentes, em troca eu tocava-lhe os lábios, os cabelos - confesso que havia nisso um prazer que na época eu considerava o maior de todos - e ela concordou.
Todo fim de semana era um presente e, enquanto ela lia ou se maquilava ou escrevia ou comia, eu deslizava delicadamente a mão pelos seus cabelos, pela sua boca, chegava a passar - sem que ela percebesse - pelos seus peitos e rapidamente subia até sua face.

No dia do meu aniversário docemente escorreguei a mão ao longo de seu tronco, sentindo a maciez de sua pele de moça nova - e como se conhecesse bem aquele caminho coloquei a mão sobre seu sexo, vi nitidamente o momento em que ela interrompeu a leitura. Paralisou-se - e enrijecendo meus dedos, definindo meu afago, sentir abrir aquela flor oculta, desnudando completamente o mistério da natureza. Subi a mão, voltando a passear livremente pelo seu talhe. Com uma mão acariciava seus olhos e com a outra segurava-lhe pelas costas. Venci-a com o poder do meu carinho.

Espaçadamente ela deu um grito que se assemelhava a um riso moço que ressoava no vento. Era a música do momento.

Amei-a. Numa única fusão de corolas decepadas no auge do seu esplendor descobri o que era o amor...

Dizer que nunca mais a vi seria exagero, mas a Eulália dos tenros anos e pudores morreu para sempre. Numa única florada senti o seu perfume misturar-se ao meu e sumir nas primaveras dos anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário