segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cleo, Clara.

- Eu tenho que subir mesmo, Cleo? Irrompeu o silêncio da sala a voz suave de Clara.

- Tem! E rápido. Ah, cuidado com o terceiro degrau, a madeira está solta e você pode cair.

Se apoiando no corrimão carcomido, as mulheres foram subindo. Clara tirou seu sapato de salto estilete e foi descalça. A madeira rangia. No final da escadaria uma porta trancada.

- Clara, me dá sua presilha!

- Não vai estragar hein?

Cleo rodou, rodou na fechadura. Pouco depois a porta velha abria deixando a presença dos cupins no chão.

- Está tudo podre.

- Você não vai conseguir achar nada nesse escuro – Clara falou se escorando na parede com papel antigo que recendia a bolor.

- Se você me ajudar, fica mais fácil... – Cleo disse se agachando e olhando debaixo da cama.

Puxou uma caixa de madeira. Soprou. Tossiu. Tossiu.

Abriu e mal conteve seu susto ao encontrar um punhado de fotos velhas.

- Vamos embora?

- Vamos.

Conversaram por um tempo. Pareciam discutir.

Suas vozes foram ficando mais fracas. O som oco de um corpo caindo no chão acordou um cachorro na vizinhança que latiu renitente.

Na penumbra da janela de onde outrora se viam dois perfis, uma silhueta recortada na luz somiu no escuro.

A noite prosseguiu em silêncio.

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