sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um souvenir que não sorri

Há pessoas que não possuem o dom da felicidade. Parecem estar perenemente sofrendo de uma dor que não passa, de um sofrimento da alma que inunda quem a eles dirige um olhar. Não fazem questão de externar o sentimento, entretanto ele brota como samambaia no muro ou água na fonte. Alguns caminham de lado, suportando o peso da dor como se fossem adereços que não podem dispensar.

A foto está na minha frente, em cima de um aparador que num canto guarda as outras épocas dessa casa. O rosto de um homem que vejo é desbotado pelo tempo, mas mesmo se a fotografia tivesse sido revelada na hora, ela ainda guardaria essa tristeza. Seu rosto é perfeito: o nariz, o queixo, os olhos que conversam (e te perguntam como podes ser tão feliz), a boca que esboça um sorriso. É lindo, mas, repito, é triste.

Não sei bem o motivo para a tristeza, mas suponho que não seja por causa do dia que prenunciava chuva ou um desenlace amoroso. Creio que não saberia viver de outra forma. Ele é hipnotizante, intenso. Minha tia disse que ele é primo do meu avô. Talvez seja, reconheço o nariz da família. Pego o porta retrato que repousa em meio a sorrisos da família grande sentada na escada, dos outros primos do meu avô, moços ainda, montados em cavalos, com aparência atlética e jovial, das tias que seguram seus bebês, do tio renegado (e até ele sorri). Meu parente distante, agora colado ao meu peito me faz sentir que a felicidade pode ser um peso. Eu, contagiado, choro.

Minha avó entrou na sala e me disse agora que ele morreu faz tempo. Ela ainda era moça, mas as histórias a respeito dele rondam a família desde então. “Contam que num dia nublado de novembro ele sentou-se debaixo de uma figueira e esperou que a tarde descesse. A noite veio e ele, deitado sobre a terra, foi encontrado morto. Curiosamente rindo, talvez pela primeira vez.” Durante um átimo de segundo lamentei por não tê-lo conhecido.

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