sábado, 11 de setembro de 2010

Ainda há auroras, apesar de tudo.

Meus dias são amorfos. O céu no teto acima da minha cama não me diz nada, ele existe, sem estrelas e com magnética vontade. O dia nasce bonito, terno. A tarde, quando intensa e luminosa, passa pelo meu rosto. A rotina me dá uma tristeza que espero passar. Eu estou bem, mas não consigo descrever esse estado intermediário entre o inteiro e o nada. Sou um círculo que se completa no vazio. Com focinho de lobo solitário sinto que alguém pode vir. Tenho medo. Bebo água e passa. Não pense que uma pessoa com tanta força interior pode se conservar sendo ela mesma. O meu novo caráter ou a falta dele me fez perder todo o interesse pelas coisas. A falta de dignidade dos seres é considerável. As exceções não me são palpáveis.

Tenho tido maus momentos, mas reajo. Porque eu faço isso? A minha revolta renascentista não muda um átimo de segundo na volta da Terra. Ah, comi pão com manteiga pela manhã.

A meninas correm na praça. A meninas de maiô. As meninas de saias curtas. As meninas tristes. As meninas. Os meninos correm na praça. Os meninos de uniforme. Os meninos nunca tristes. Os meninos. A dinâmica vital e normal. Essa é a regra.

O sol batendo nas frutas expostas na feira realça-lhes a cor. A melancia parece estar dulcíssima. Não gosto de melancia. Não tem caju. Queria um.

Fiz um poema que eu não gostei, mas me disseram ser bom:
'[...] a terceira palavra
canta no escuro
um canto de grilo
na noite ensolarada.'

Vejo crianças pedindo ajuda e penso em sentar-me ao lado delas e empunhar minha placa. Tanta pobreza e miséria. Miséria de alma.

Olhei o horóscopo. Não vou sair hoje.

Finjo muito. Vou parar com isso.

É pena o dia estar chovendo. Fora isso, vai se vivendo.

Um comentário:

  1. Ai, que triste. Cê tá bem?

    Tem que me contar do cinema! Espero que não seja essa a influência do texto.

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